Trabalhava no Jornal do Brasil como revisor de texto. Deixei passar, por desatenção, na primeira página, Volta Redonda, em vez de Volta Grande. O texto era chamada para reportagem com o presidente milico da época. Se passasse errado, quase certamente estaria na rua. O encarregado da oficina, o lendário Jorge Cachorrão, entrou na ampla sala da revisão, veio até minha mesa e mostrou-me a prova em papel com meu erro. Depois que vi, ele amassou e jogou fora. Somente ele e eu soubemos o que aconteceu.
Aprendi com Cachorrão que não há necessidade de expor o colega.
Na década de 90, trabalhei alguns penosos meses em uma empresa evangélica. Os colegas estavam descontentes com algumas medidas tomadas pelo líder. Reunimo-nos, a ralé, e resolvemos que apresentaríamos, respeitosamente (há que ser muito delicado ao dirigir-se a ungidos, eles são melindrosos), nossas reivindicações. O pastor-chefe abriu os trabalhos e pediu aos que quisessem dizer algo que o fizessem. Eu, já com quarenta e tal, acreditei. Os colegas quedaram-se em tumular silêncio. O gordo aqui falou e dançou. Chefes (em sua grande maioria) adoram subalternos que lhes sirvam como claque.
Na década de 80, trabalhei na Manchete. Havia todo um ritual que orientava a saída das revistas para a gráfica. As semanais na frente, as mensais aguardavam. A exceção era quando havia fechamento de uma mensal. Tavares, o único chefe inteligente com quem trabalhei, me pôs na distribuição enquanto ele descia para tomar um grau. Quando voltou me pegou distribuindo Sétimo Céu. “Gordo, você é uma besta”, foi o começo. No final, acho que já estava me mandando tomar no cu (naquela época, tomar no cu não dava o cartaz de hoje). De minha parte, brindei-o com o bom repertório que aprendi nas ruas e alguma coisa que só conheci na igreja. Meia hora depois era como se nada tivesse acontecido. Homens agem assim.
Na JUERP trabalhei com um louco que foi posto pra fora de duas igrejas por indolência. Ele era chefe de quatro infelizes: eu entre eles. O idiota achava que eu telefonava demais. Para resolver a questão, soltou um memorando proibindo ligações durante o expediente. A secretária entregou o papel aos serviçais. Mais tarde ele chamou meus colegas e lhes disse que o memorando só valia para mim. Continuei telefonando até sair de lá, claro.
Concluindo, na Última Hora trabalhei durante três meses. Como no Jornal do Brasil, tinha de trabalhar sábados e domingos. Éramos 12 homens confinados em uma sala sem janela. Em compensação, o ar refrigerado nos congelava. Dez colegas fumavam. E fumavam muito. Nunca fui trabalhar sábado nem domingo. Um dia, Otávio, o chefe, me chamou e disse que se eu continuasse faltando me dispensaria. Honestamente, disse-lhe que fins de semana eu não iria. “Bom, vou segurar você uns dois meses, depois mando embora, tá ok?”, ele me disse. Não foi necessário, porque surgiu o emprego na Manchete, que era de segunda a sexta.
Não estendo a impressão terrível que tenho de chefes evangélicos para pessoas que conheci na vida “civil”, mas, confesso, no trabalho lidei com descrentes bem mais sérios e éticos do que os crentes com quem topei.
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