Madrugada insone

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Da madrugada fui, sou e serei. Noturno: escrevo, trabalho, vejo TV (programação gravada, sacumé) até o dia raiar. Recolho-me depois de ouvir o recado edificante de Ana Maria Brega na abertura de seu instrutivo programa.
Nas madrugas sem trabalho, zapeio descontrolado entre os 983 canais da SKY. Se fui mau durante o dia, assisto, sem critério, os alucinados telepregadores. Desde o aloprado de jaleco branco da gruta do amor (penso logo sacanagem à menção dessa gruta e tenho de pular pra outro) até o sempre enfurecido Malafaia.
Escuto um pouquinho o que me falam, presto atenção nos língua solta que conheço pessoalmente e, invariavelmente, amanheço com Waldemiro Santiago. Gosto desse cara.
Waldemiro não é pregador para meu consumo pessoal. Na igreja que frequento, estou satisfeito. O pastor que me tira de casa não é pilantra (juro, é verdade) nem estupra cérebros.
Waldemiro Santiago tem carisma e me parece sincero. Prega e o povo o entende e atende. Não é simples ser simples.
Pregadores, geralmente, seguem um de dois caminhos mais comuns. Podem preparar (ou vampirizar) um sermão feijão com arroz, cuspir obviedades bíblicas e se fazerem de estudiosos da Palavra (o lusitano com 456 doutorados segue essa linha) ou posarem de servos indignados e ferirem nossos ouvidos com gritos entremeados de papagaiadas. Têm público, claro.
Waldemiro conversa com sua plateia. Chora pitangas, denuncia que sua igreja está sendo perseguida e ressalta sempre a origem humilde. Bom mineiro, usa o falar caipira a seu favor. Edir Macedo, arauto da prosperidade, “escreve” livros sobre tomada de poder secular pela igreja e busca sofisticar-se. R.R. Soares fala a um público simples, mas também gosta de mostrar-se mais envernizado do que é. O título que colou à própria imagem, missionário, é descarada falsa humildade. Waldemiro parece que quer fugir dessas armadilhas.
Em suas pregações, usa a Bíblia para referendar sua palavra. As imagens são simples, óbvias, mesmo, e consegue o que é aspiração de todo comunicador: comunicar-se.
Faz o estilo paizão: carinhoso e severo. Abraça sem timidez. Movimenta-se entre o povo como um igual, deixando claro que igual não é. É o cara. Cheio de erros, falhas, mas surge para a multidão como esperança de tempos melhores. E o tempo melhor do público de Waldemiro não é aquele em que terá dois carros importados, como a plateia universalista. Ali, no tempo melhor, haverá força para a sobrevivência.
E os milagres que acontecem na Igreja Mundial do Poder de Deus são verdadeiros? Não sei. Cabe às autoridades verificarem e denunciarem, caso não sejam.
Gosto de ver Waldemiro Santiago tratar o povo com carinho. Na maioria das vezes, é só isso que o povo quer.
Pastores, hoje, têm horror de gente, principalmente pobre. Waldemiro talvez seja igual a estes, mas, se é, finge bem. (UCS)


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Marcelo Belchior
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