O professor

sábado, 16 de maio de 2009



Em 1980, entendi que devia ir para o Seminário. O bom batista, no Rio, ou ia para o Seminário do Sul ou o Betel. Havia outros, mas nem eram considerados por quem desejava fazer um curso razoável. Hoje há centenas de seminários. Tudo meia bomba. Inclusive os dois citados no início.
No segundo semestre daquele ano, conheci Jerry Stanley Key. Era professor de Homilética e a primeira parte de sua disciplina estudávamos depois de seis meses de seminário.
Eu era um tímido mórbido. Já deixara o curso de História da UFF por não conseguir me apresentar à frente da turma. O trabalho final de Homilética era, lamentavelmente para mim, pregar um sermão diante da turma.
Postei-me diante dos algozes, encapsulado em terno e gravata, e, claro, fracassei. No meio do sermão, desisti do curso.
O tempo passou, dez anos depois vencera a timidez de falar em público (ainda tenho certa aversão a seres humanos). A igreja foi minha escola. Voltei ao seminário, fiz Homilética e fui aprovado com louvor.
Quando soube da homenagem que os ex-alunos de Jerry Key prestariam a ele no seminário, venci minha resistência de ir à ex-casa de profetas e, também por causa da carona do amigo Wander, fui até lá. Ótimo ter ido. Revi algumas pessoas queridas e pude participar da homenagem a um professor como já não existe naquela decadente instituição.
Jerry Stanley Key é homem ético, íntegro, conhecedor da matéria que ensinou e dedicado a seus alunos. Não foi unanimidade entre alunos. Havia quem não o suportasse. Mas não há, que tenha estudado com ele, quem não reconheça as qualidades que listei. O que, convenhamos, é muito mais do que a esmagadora maioria dos professores oferece, hoje.
Jerry Key, visto com meus olhos de hoje, parece um extraterrestre. O carinho genuíno que demonstra por sua esposa Joana (também homenageada), a identificação com o país e o povo brasileiro, sua disciplina física e espiritual são todas características que impressionam. Jerry Key conhecia tão bem o português que fazia reparos nos textos dos seminaristas desatentos. Hoje não seria vantagem. Há líderes denominacionais que não conseguem juntar duas frases e a elas dar sentido.
No encontro, realizado dia 11 de maio, falaram ex-alunos, ex-reitores, pregou o pr. Key e, no final, houve uma reunião para uma foto. Nesta hora eu saí, olhei a capela do Seminário, sentei-me no meio-fio e, como um personagem de Nelson Rodrigues, chorei lágrimas de esguicho pensando no triste fim do outrora glorioso Seminário do Sul. (Utahy Santos)

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