O grande 'problema' do Evangelho de Cristo é sua insistência na afirmativa da necessidade do homem em relacionar-se com Deus por meio de seu filho. Relacionamentos exigem, inexoravelmente, vínculos e comprometimento, e eis aí nosso grande entrave. A sociedade pós-moderna não lida bem com compromissos e concomitantemente é profundamente mística.
Misticismos se constroem com crendices que se sustentam pela ignorância. Entende-se, portanto, porque tanto sucesso fazem as religiões de mercado. Pirâmides, duendes, cristais, incensos, anjos, cores, luzes e afins são capazes de curar, dar paz, trazer sucessos, proteger, consertar erros e mudar realidades incômodas, sejam elas quais forem, sem requererem nenhum compromisso de quem delas se utilizem.
Diante dessa realidade, as religiões concorrentes precisam recuperar o fôlego perdido. Se há uma pessoa – a pessoa -, haverá relação e compromisso, e isso é demasiadamente cansativo, a menos que se ofereçam bônus, pontuação e milhagem por fidelidade. Portanto, já é possível ser evangélico sem Cristo. É isso que se busca. Sim, queremos Cristo! Só precisamos saber que vantagem teremos.
Ninguém quer ouvir que Deus não lhe deve nada, que está no Céu e que faz tudo que lhe apraz. Queremos um Deus semelhante a nós: manipulável. Só precisamos encontrar quem, manipulando-nos, prometa-nos manipulá-lo. As palavras de Cristo são demasiadamente enfadonhas se não devidamente retificadas pelo nosso bondoso manipulador. Só ele sabe açucarar um fardo não tão leve assim. Sim! Eis nossa lã, nossos dízimos, nossas ofertas e oferendas, nossas “primícias”, nossos “desafios”, nosso dinheiro e tudo mais que se exija – dá-nos, tão somente, o poder de controle sobre a divindade que tudo pode, mas que tem a péssima mania de querer mudar-nos e fazer-nos semelhantes a ele.
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